Jó 3

Ivaldo Fernandes

 

ARA – Almeida Revista Atualizada

Jó amaldiçoa o seu nascimento e lamenta a sua miséria

1  Depois disto, passou Jó a falar e amaldiçoou o seu dia natalício.

2Disse Jó:

3Pereça o dia em que nasci e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!

4Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz.

5Reclamem-no as trevas e a sombra de morte; habitem sobre ele nuvens; espante-o tudo o que pode enegrecer o dia.

6Aquela noite, que dela se apoderem densas trevas; não se regozije ela entre os dias do ano, não entre na conta dos meses.

7Seja estéril aquela noite, e dela sejam banidos os sons de júbilo.

8Amaldiçoem-na aqueles que sabem amaldiçoar o dia e sabem excitar o monstro marinho.

9Escureçam-se as estrelas do crepúsculo matutino dessa noite; que ela espere a luz, e a luz não venha; que não veja as pálpebras dos olhos da alva,

10pois não fechou as portas do ventre de minha mãe, nem escondeu dos meus olhos o sofrimento.

11¶ Por que não morri eu na madre? Por que não expirei ao sair dela?

12Por que houve regaço que me acolhesse? E por que peitos, para que eu mamasse?

13Porque já agora repousaria tranqüilo; dormiria, e, então, haveria para mim descanso,

14com os reis e conselheiros da terra que para si edificaram mausoléus;

15ou com os príncipes que tinham ouro e encheram de prata as suas casas;

16ou, como aborto oculto, eu não existiria, como crianças que nunca viram a luz.

17Ali, os maus cessam de perturbar, e, ali, repousam os cansados.

18Ali, os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do feitor.

19Ali, está tanto o pequeno como o grande e o servo livre de seu senhor.

20¶ Por que se concede luz ao miserável e vida aos amargurados de ânimo,

21que esperam a morte, e ela não vem? Eles cavam em procura dela mais do que tesouros ocultos.

22Eles se regozijariam por um túmulo e exultariam se achassem a sepultura.

23Por que se concede luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus cercou de todos os lados?

24Por que em vez do meu pão me vêm gemidos, e os meus lamentos se derramam como água?

25Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece.

26Não tenho descanso, nem sossego, nem repouso, e já me vem grande perturbação.

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