ARA – Almeida Revista Atualizada
Jó descreve o estado miserável em que caiu
1 Mas agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr ao lado dos cães do meu rebanho.
2De que também me serviria a força das suas mãos, homens cujo vigor já pereceu?
3De míngua e fome se debilitaram; roem os lugares secos, desde muito em ruínas e desolados.
4Apanham malvas e folhas dos arbustos e se sustentam de raízes de zimbro.
5Do meio dos homens são expulsos; grita-se contra eles, como se grita atrás de um ladrão;
6habitam nos desfiladeiros sombrios, nas cavernas da terra e das rochas.
7Bramam entre os arbustos e se ajuntam debaixo dos espinheiros.
8São filhos de doidos, raça infame, e da terra são escorraçados.
9Mas agora sou a sua canção de motejo e lhes sirvo de provérbio.
10Abominam-me, fogem para longe de mim e não se abstêm de me cuspir no rosto.
11Porque Deus afrouxou a corda do meu arco e me oprimiu; pelo que sacudiram de si o freio perante o meu rosto.
12À direita se levanta uma súcia, e me empurra, e contra mim prepara o seu caminho de destruição.
13Arruínam a minha vereda, promovem a minha calamidade; gente para quem já não há socorro.
14Vêm contra mim como por uma grande brecha e se revolvem avante entre as ruínas.
15¶ Sobrevieram-me pavores, como pelo vento é varrida a minha honra; como nuvem passou a minha felicidade.
16Agora, dentro de mim se me derrama a alma; os dias da aflição se apoderaram de mim.
17A noite me verruma os ossos e os desloca, e não descansa o mal que me rói.
18Pela grande violência do meu mal está desfigurada a minha veste, mal que me cinge como a gola da minha túnica.
19Deus, tu me lançaste na lama, e me tornei semelhante ao pó e à cinza.
20Clamo a ti, e não me respondes; estou em pé, mas apenas olhas para mim.
21Tu foste cruel comigo; com a força da tua mão tu me combates.
22Levantas-me sobre o vento e me fazes cavalgá-lo; dissolves-me no estrondo da tempestade.
23Pois eu sei que me levarás à morte e à casa destinada a todo vivente.
24De um montão de ruínas não estenderá o homem a mão e na sua desventura não levantará um grito por socorro?
25Acaso, não chorei sobre aquele que atravessava dias difíceis ou não se angustiou a minha alma pelo necessitado?
26Aguardava eu o bem, e eis que me veio o mal; esperava a luz, veio-me a escuridão.
27O meu íntimo se agita sem cessar; e dias de aflição me sobrevêm.
28Ando de luto, sem a luz do sol; levanto-me na congregação e clamo por socorro.
29Sou irmão dos chacais e companheiro de avestruzes.
30Enegrecida se me cai a pele, e os meus ossos queimam em febre.
31Por isso, a minha harpa se me tornou em prantos de luto, e a minha flauta, em voz dos que choram.