O QUE É PANTEÍSMO

Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem quando se deparam com essa palavra. Panteísmo é uma doutrina filosófica e religiosa que afirma que tudo é divino, que Deus e o universo são a mesma coisa. Segundo o panteísmo, não há distinção entre o criador e a criação, entre o sagrado e o profano, entre o natural e o sobrenatural. Tudo é manifestação de uma única realidade absoluta, que pode ser chamada de Deus, Natureza, Espírito, Energia ou qualquer outro nome.

O panteísmo tem origem na Grécia Antiga, com os filósofos pré-socráticos, que buscavam explicar a origem e a ordem do cosmos. Alguns deles, como Tales de Mileto, Anaximandro e Heráclito, concebiam o princípio de todas as coisas como uma substância única, que podia ser água, ar, fogo ou logos (razão). Essa substância era considerada divina e imortal, e estava presente em tudo o que existia. Posteriormente, Platão e Aristóteles também desenvolveram ideias panteístas, ao afirmarem que o mundo sensível era uma cópia imperfeita de um mundo inteligível, onde residiam as formas ou ideias eternas.

O panteísmo também foi influenciado pelo hinduísmo, pelo budismo e pelo taoísmo, religiões orientais que enfatizam a unidade entre o ser humano e o universo, e a busca pela iluminação ou libertação do ciclo de reencarnações. No hinduísmo, por exemplo, existe o conceito de Brahman, a realidade suprema e inefável, que se manifesta em tudo o que existe. O objetivo da vida é reconhecer a identidade entre Brahman e Atman, o eu individual. No budismo, há o conceito de Nirvana, o estado de paz e felicidade que se alcança quando se extingue o sofrimento causado pelo desejo e pela ignorância. No taoísmo, há o conceito de Tao, o caminho ou a lei natural que rege todas as coisas.

Na Idade Média, o panteísmo foi considerado uma heresia pela Igreja Católica, que defendia a existência de um Deus pessoal e transcendente, que criou o mundo do nada e que se revelou aos homens através da Bíblia e da Igreja. Alguns pensadores medievais, como Joaquim de Fiore e Mestre Eckhart, foram acusados de panteísmo por defenderem uma visão mística e imanente de Deus. No Renascimento, o panteísmo ressurgiu com força, com figuras como Giordano Bruno, Nicolau de Cusa e Paracelso, que retomaram as ideias dos antigos gregos e dos orientais.

Na Idade Moderna, o panteísmo teve seu expoente máximo em Baruch Spinoza, filósofo holandês do século XVII. Spinoza afirmou que Deus era a única substância que existia, e que tinha infinitos atributos ou modos de se expressar. Entre esses atributos estavam a extensão (matéria) e o pensamento (mente), que constituíam as duas faces da mesma realidade. Para Spinoza, Deus não era um ser pessoal nem tinha vontade ou propósito. Ele era a causa imanente de todas as coisas, que seguiam leis necessárias e imutáveis. O conhecimento de Deus era a fonte da felicidade humana.

O panteísmo também influenciou outros filósofos modernos, como Gottfried Leibniz, Immanuel Kant e Georg Hegel. Leibniz concebeu o universo como composto por infinitas mônadas (unidades simples), que refletiam em si mesmas toda a harmonia divina. Kant distinguiu entre o fenômeno (o que aparece aos sentidos) e o númeno (a coisa em si), sendo este último inacessível à razão humana. Hegel propôs um sistema dialético em que a realidade evoluía através da tese (afirmação), antítese (negação) e síntese (superação), até chegar ao Absoluto, a ideia de Deus.

No século XIX, o panteísmo se manifestou na literatura, na arte e na ciência, com autores como Ralph Waldo Emerson, Henry David Thoreau, Walt Whitman, Friedrich Nietzsche, Arthur Schopenhauer, Albert Einstein e Carl Gustav Jung. Eles expressaram em suas obras uma visão de mundo que valorizava a natureza, a intuição, a criatividade e a individualidade, em contraste com o racionalismo, o materialismo e o dogmatismo da época. Eles também buscaram integrar as diferentes tradições culturais e religiosas, em uma perspectiva universalista e humanista.

No século XX e XXI, o panteísmo continua sendo uma corrente de pensamento relevante e atual, que dialoga com as questões ecológicas, éticas e espirituais do nosso tempo. Alguns exemplos de panteístas contemporâneos são Aldous Huxley, Alan Watts, Joseph Campbell, Richard Dawkins, Stephen Hawking e Neil deGrasse Tyson. Eles defendem uma visão de mundo que reconhece a beleza, a complexidade e a diversidade da vida, e que busca uma harmonia entre o ser humano e o seu ambiente.

O panteísmo é, portanto, uma forma de compreender a realidade que transcende as fronteiras entre o sagrado e o profano, entre o natural e o sobrenatural, entre o divino e o humano. É uma forma de celebrar a existência de tudo o que é, e de se sentir parte de um todo maior e mais profundo. É uma forma de amar a Deus em todas as suas manifestações.

por:pb ivaldo fernandes

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