História do Boi Leitão ou O Vaqueiro que não mentia

Francisco Firmino de Paula

Numa cidade distante Há muito tempo existiu Um distinto fazendeiro O mais rico que se viu E tinha um jovem vaqueiro Homem que nunca mentiu.

Também esse fazendeiro Muitas lojas possuía Tinha muitos empregados Porém ele garantia Que só aquele vaqueiro Era sério e não mentia.

Seus amigos em palestra Exclamavam admirados Porque é que entre tantos Homens nobres empregados Somente um rude vaqueiro É quem não causa cuidados?

Respondia o fazendeiro — Tudo é nobre e decente, Porém, capaz de mentir, Digo conscientemente, Mas Dorgival meu vaqueiro Por forma nenhuma mente.

O conheço há muitos anos E nunca vi ele mentir É rude por ser vaqueiro Mas sabe entrar e sair Se faz uma causa errada Nunca procura fingir.

Juntaram-se dez amigos E mandaram o fazendeiro Inventar uma cilada Pra Dorgival o vaqueiro Cair na falta, por verem Se ele era verdadeiro.

Disse o doutor aos amigos Nós temos que apostar Dará vinte contos cada Se o que diga aprovar Perderei duzentos contos Se a meu vaqueiro falhar.

Eu mandarei minha filha A Dorgival seduzir E fazer todo o possível Dele na laço cair, E depois veremos ele Falar verdade ou mentir.

Concordaram e a aposta Fecharam rapidamente Dizendo: esperaremos O dia conveniente E provaremos doutor Que o seu vaqueiro mente.

O vaqueiro Dorgival Morava um pouco afastado Em uma grande fazenda Aonde era encarregado Ali existia um boi Do patrão muito estimado.

O vaqueiro também tinha Ao boi estimação Pois era um touro bonito O orgulho do patrão Era da raça gigante Lhe chamavam o “boi Leitão”.

Toda vez que o vaqueiro O seu patrão visitava Logo depois de saudá-lo O doutor lhe perguntava Pelo gado e em seguida O boi Leitão coma estava?

O vaqueiro respondia Nosso gado vai feliz E o nosso boi Leitão? — É gordo e bom de raiz Dizia o patrão, você Somente a verdade diz.

De formas que o patrão tinha Muita confiança nele O moço lá na fazenda Cumprindo os deveres dele Não sabia que os ricos Estavam mexendo com ele.

Na referida fazenda Quem quisesse ali chegar Vindo da cidade, havia De um rio atravessar Tinha ali uma jangada Pra quem quisesse passar.

O doutor chamou a filha Disse: vá com a criada Amanhã logo cedinho Na fazenda da jangada Do vaqueiro Dorgival Se faça de namorada.

Vá lindamente vestida Com lindos trajes vermelhos No rio próximo à fazenda Preste atenção meus conselhos Vá passear e levante A roupa até aos joelhos.

Se o vaqueiro lhe chamar Diga: mate a boi Leitão E tire ligeiramente O fígado e o coração Mande fazer um cozido Pra comermos um pirão.

A moça chegou no rio Pôs-se ali a passear Com as vestes aos joelhos Alegremente a cantar O vaqueiro ouvindo a voz Veio fora observar.

Dorgival vendo a donzela Disse rindo: oh! minha santa Me alegro em ver e ouvir Quem assim tão linda canta Venha pra lado de cá Longe assim não adianta.

Respondeu ela: eu irei Se matar o boi Leitão E tirar ligeiramente O fígado e o coração Mandar fazer um cozido Pra comermos com pirão.

O vaqueiro francamente Deu resposta imediata Donzela você merece Por ser gentil e exata Mas lhe digo: o boi Leitão Do meu senhor não se mata.

Disse a moça: tem razão E saiu no mesmo instante O rapaz ficou olhando Aquele porte elegante Pensando naquelas pernas De beleza fascinante.

O vaqueiro não sabia Que aquela moça bela Era filha de seu amo Pois não conhecia ela Quase não dormiu a noite Com o pensamento nela.

Deolinda ao chegar Em casa contou ao pai A resposta do vaqueiro Disse o doutor: você vai Amanhã e o seduza Pra ver se ele cai.

Amanhã você levante Até as coxas o vestido Se ele chamar, você diga Vou se fizer meu pedido De matar o boi Leitão Pra comermos um cozido.

A moça no próximo dia Lá na fazenda chegou Na beira do rio, a roupa Té as coxas levantou E se pôs a passear Dorgival vendo-a chamou.

Meu anjo venha pra cá — Só vou se matar o boi — Não, assim é impossível Minha santa me perdoe — Tem razão respondeu ela Rapidamente se foi.

O pai lhe disse amanhã Termine a sua aventura Vá passear e levante A roupa até a cintura E mande-o matar o boi Que ele não se segura.

A moça disse: meu pai Desse jeito é imoral Disse o doutor: pode ir Que não lhe “sucede” mal Eu sei o que estou fazendo E confio em Dorgival.

Ela foi no outro dia E ficou lá passeando, Com a roupa até na cinta Dorgival foi lhe avistando Gritou: moça venha cá Você está me aperriando.

Deolinda disse: eu vou Se matar o boi Leitão Do coração e do fígado Fazer para nós um pirão O vaqueiro disse: venha Hoje eu mato até o cão.

Dorgival rapidamente Botou no rio a jangada Chegando do outro lado Trouxe a moça e a criada Matou logo o boi Leitão Para fazer a mesada.

Fez a carne toda em manta Pegou o couro espichou O coração e o fígado A criada preparou Fez o pirão e depois Com prazer tudo almoçou.

Deolinda com o vaqueiro Ali o dia passou Palestrando e a tardinha Ele a donzela abraçou E ela com a criada Pra cidade regressou.

Chegando informou ao pai Tudo que tinha se dado Contou que pelo vaqueiro Havia se apaixonado Disse o pai: ele é solteiro Vamos ver o resultado.

No outro dia o vaqueiro Amanheceu pensativo E disse: meu amo pensa Que o boi Leitão está vivo Mas vou lhe dizer que não, Gosto de ser positivo.

Ali botou um chapéu Na cabeça do mourão Se afastando montou-se Em um cavalo cardão Pôs-se a dirigir ao pau Como se fosse ao patrão.
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