Inferno como lugar de prisão dos anjos caídos

Ivaldo Fernandes

 

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 Leitura Diária 

2 Pedro 2.
4 Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo;

Reflexão

O versículo de 2 Pedro 2:4 está inserido numa epístola geralmente atribuída ao apóstolo Pedro. A autoria tradicional, entretanto, não é unânime entre os estudiosos modernos, mas a carta é amplamente aceita como um texto autoritário no Novo Testamento. O público-alvo desta epístola eram os cristãos da Ásia Menor, enfrentando falsas doutrinas e perseguições. Pedro, ou o autor sob este pseudônimo, escreve para alertar e encorajar os crentes, destacando a importância de manter a fé e a conduta cristã correta.

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O propósito geral da carta é triplo: advertir contra os falsos mestres, reafirmar a autenticidade da mensagem apostólica e encorajar os fiéis a viverem vidas santas em antecipação ao retorno de Cristo. Dentro deste contexto, o versículo 2 Pedro 2:4 serve como um exemplo poderoso do julgamento divino. A menção à prisão dos anjos caídos demonstra a severidade com que Deus trata a rebelião e a impiedade, não apenas entre os humanos, mas também entre os seres celestiais.

O contexto histórico e cultural da época também é relevante. No primeiro século, os cristãos viviam sob a constante ameaça do Império Romano, e os ensinamentos heréticos estavam se espalhando rapidamente, oferecendo uma alternativa mais conveniente ao rigor da fé apostólica. Neste cenário, as advertências de Pedro são tanto uma chamada à perseverança quanto um lembrete do poder e justiça de Deus.

Para complementar o entendimento de 2 Pedro 2:4, outras passagens bíblicas são igualmente esclarecedoras. Judas 1:6, por exemplo, também menciona anjos que não guardaram sua dignidade e foram aprisionados até o dia do julgamento. Gênesis 6:1-4 narra a história dos "filhos de Deus" que se uniram às filhas dos homens, resultando em uma raça de gigantes e na subsequente corrupção da humanidade, o que levou ao dilúvio. Estas referências ajudam a construir um quadro mais completo da gravidade e das consequências da rebelião contra Deus.

O Inferno como Lugar de Prisão

Em 2 Pedro 2:4, o inferno é descrito como um local de prisão para os anjos caídos, uma concepção que se torna intrigante quando analisamos a palavra grega usada no versículo: 'Tártaro'. Diferente de 'Hades' ou 'Geena', que possuem suas próprias conotações no Novo Testamento, 'Tártaro' carrega significados específicos tanto na mitologia grega quanto no judaísmo do Segundo Templo. Na mitologia grega, Tártaro é um profundo abismo onde os titãs eram aprisionados, um lugar de severo tormento e sofrimento. No contexto judaico, especialmente durante o período do Segundo Templo, Tártaro é adaptado para descrever um local de punição para espíritos malignos.

2 Pedro 2:4 faz uso desta terminologia para sublinhar a seriedade da punição divina. A escolha de 'Tártaro' ao invés de 'Hades' ou 'Geena' não é aleatória. 'Hades' se refere geralmente ao lugar dos mortos em geral, enquanto 'Geena' é mais frequentemente associado ao fogo eterno reservado para os ímpios no fim dos tempos. O uso de 'Tártaro' destaca uma forma de encarceramento mais severa e específica, destinada aos anjos que pecaram. Isto implica um nível de julgamento e justiça divina que é específico e categórico.

Teologicamente, este uso do termo 'Tártaro' em 2 Pedro 2:4 reforça a ideia de que a justiça de Deus é meticulosa e proporcional à ofensa. Os anjos caídos, por terem transgredido de maneira grave, são confinados em um lugar de punição que é, por sua própria definição, um abismo de tormento. Esta distinção também ajuda a esclarecer que nem todos os lugares mencionados como 'inferno' na Bíblia são iguais em função e propósito. Enquanto 'Geena' e 'Hades' têm suas próprias implicações escatológicas e soteriológicas, 'Tártaro' é reservado para uma punição imediata e específica.

Assim, a análise etimológica e teológica de 'Tártaro' em 2 Pedro 2:4 não apenas esclarece a natureza do inferno como um lugar de prisão, mas também ilumina a complexidade do julgamento divino e a justiça de Deus em lidar com diferentes formas de transgressão. Este exame detalhado sublinha a seriedade com que a tradição bíblica aborda a questão do pecado e da punição, oferecendo uma visão aprofundada sobre a natureza do inferno e do julgamento eterno.

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