O PERFEITO ESTADO ETERNO (BIBLIA)

 


Estudo escrito por: pr Elinaldo Renovato de Lima


Após o Juízo Final, Deus dará início a um período indefinido, que os estudiosos chamam de “O Perfeito Estado Eterno”. Jesus fez alusão a esse período, chamando-o de

 

“mundo vindouro” (Lc 20.35). O Apocalipse traduz esse estado: “E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Ap 21.1 – grifo acrescido). Isaías viu esse estado eterno: “Porque, como os céus novos e a terra nova que hei de fazer estarão diante da minha face, diz o Senhor, assim há de estar a vossa posteridade e o vosso nome” (Is 66.22). O perfeito Estado Eterno será a consumação de tudo o que consta do Ap 21 e 22.

 

 Haverá a restauração de todas as coisas. Pedro, falando de Jesus, disse: “o qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio” (At 3.21). Certamente, haveremos de ver “As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam” (1 Co

2.9).

 

 A Igreja terá lugar preeminente. “Mas os santos do Altíssimo receberão o reino e possuirão o reino para todo o sempre e de eternidade em eternidade... E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão” (Dn 7.18,28).

 

 Jesus reinará eternamente com poder e glória. “Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre” (2 Sm 7.13); Disse o anjo a Maria: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim” (Lc

1.32,33); e, numa declaração majestosa, diz o Apocalipse: “E tocou o sétimo anjo a trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre” (Ap 11.15).

 

                    Características do perfeito Estado Eterno. 

 

 O Pr. Antônio Gilberto fez um resumo dessas características [1], as quais reproduzimos com algumas adaptações. 

 

1)    Santidade perfeita. Nos novos céus , e na nova terra, haverá plena santidade: “E ali nunca mais haverá maldição contra alguém” (Ap 22.3; ver 21.26); Is 57.15; 6.3; Sl 65.5; 

2)    Governo perfeito. Cristo será o Governante Universal. A Ordem mundial e universal estará subordinada à sua Lei. “e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22.3 b); 

3)    Serviço perfeito. “e os seus servos o servirão [a Cristo]” (Ap 22.3 c); a idéia de que, no céu, as pessoas ficarão andando de um lado para outro, sem fazer nada, não tem fundamento bíblico. Haverá um trabalho perfeito;

4)    Visão perfeita. “E verão o seu rosto” (Ap 22.4 a ). Os redimidos verão o rosto de Jesus como Ele é, e terão uma visão magnífica das regiões celestiais, sem o auxílio de qualquer equipamento ótico ou telescópico.

5)    Identificação perfeita. “e na sua testa estará o seu nome” (Ap 22.4). “   12 A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu    Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o    nome do meu Deus e o nome da cidade do meu    Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu    Deus, e também o meu novo nome” (Ap 3.12);

 

6)    Iluminação perfeita. “E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumia” (Ap 22.5). 

7)    Interação perfeita. “e reinarão para todo o sempre” (Ap 22.5); os salvos, formando a Igreja do Senhor, terão a oportunidade de reinar com Ele por toda a eternidade.

 

 Segundo o Pr. Antônio Gilberto, “A Bíblia menciona ainda uma sucessão de eras futuras, sobre as quais nada nos é dito no presente, ‘ para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus (Ef 2.7) ... Certamente, nessas eras bíblicas futuras, o imenso universo, com seus milhões e milhões de planetas será ocupado, pois Deus criou todas as coisas para determinados fins , segundo o seu eterno plano e propósito” [2].

 

ESCATOLOGIA INDIVIDUAL

 

O ESTADO INTERMEDIÁRIO

 

 É o estado entre a morte física e a ressurreição, tanto dos salvos, como dos ímpios. Como não poderia ser diferente, os salvos, sem dúvida alguma, terão um destino diferente dos ímpios. A Bíblia abre o véu da eternidade, em poucas referências, e nos permite vislumbrar o que espera o salvo e o perdido, após a morte física. Alguns termos devem ser anotados para a compreensão do assunto. “Sheol é um termo hebraico que às vezes significa indefinidamente tumba, ou lugar ou estado dos mortos; e outras vezes definidamente, um lugar ou estado dos mortos em que existe o elemento de miséria e castigo, mas nunca um lugar de felicidade ou bem-aventurança depois da morte. 

 

 Hades é uma palavra grega que significa o mundo invisível dos espíritos idos... representa sempre o mundo invisível como sob o domínio de satanás e como em oposição ao reino de Cristo. A terceira palavra Paraíso , significa um parque ou jardim de prazer. Foi usada pelos tradutores da Septuaginta para significar o Jardim do Éden (Gn 2.8). Aparece apenas três vezes no Novo Testamento (Lc 23.43; 2 Co 12.4; Ap 2.7), e o contexto demonstra que está em relação com o ‘ terceiro céu’, no qual cresce a árvore da vida – referindo-se necessariamente todas estas passagens a uma vida que se segue após a morte” [3].

 

EM RELAÇÃO AOS ÍMPIOS (ver Lc 16.19-31).

 

 A Bíblia nos mostra que os ímpios, antes da ressurreição, irão para um lugar chamado Hades. O texto de Lucas 16 nos dá algumas pistas do além, na parábola do rico e de Lázaro. Ambos foram sepultados. Aqui, o destino do corpo morto é o pó (cf. Ec 12.7). Mas a diferença entre o ímpio e o justo, no fim da vida, é o destino diferente de um e de outro.

 

1)         O Hades é um lugar “embaixo”, ou oposto ao céu (“seio de Abraão): o rico “ergueu os olhos”, vendo “ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio” (v. 23); “Para o sábio, o caminho da vida é para cima, para que ele se desvie do inferno que está embaixo” (Pv 15.24); ver Pv 5.5; 9.18);                                                   

2)         Os ímpios sofrem. O rico ímpio estava em “tormentos” (v. 23); “E, clamando, disse: Abraão, meu pai, tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama” (v.

 

24); eles estão “em prisão”: “no qual também foi se pregou aos espíritos em prisão” (1 Pe 3.19);

       

3)  Os ímpios estão conscientes; eles vêm o “seio de Abraão”, que corresponde ao Paraíso; o ímpio rico clamava ao “Pai Abraão”, e pedia socorro para seu tormento  (v. 24);

       

4)  Eles se lembram do que passaram na terra (v . 25); 

5)  Eles não podem ser consolados por ninguém. “E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá” (v. 26); 

6)  Aos ímpios “é impossível sair do lugar de seu tormento” (v. 26) [4]; diz o Eclesiastes: “caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que a árvore cair, ali ficará” (Ec 11.3b); 

7)  “Eles são inteiramente responsáveis por não haverem escutado a tempo as advertências das Escrituras” (v. 27-31) [5].

 

     Em relação aos salvos

 

 Diz René Pache: “Impossível imaginar um contraste mais completo. O crente merecia a mesma condenação; mas, havendo-se humilhado diante de Deus,  colocou sua confiança naquele cuja morte o livrou das consequências do pecado. Além disso, a morte não é mais para ele a rainha do terror. E escapou do império da morte no dia em que nasceu de novo” [6][7]. Na parábola do rico e de Lázaro (Lc 16), vemos, também, o estado intermediário do salvo.

 

1)    O justo é “levado pelos anjos” (v. 22); 

2)    O justo é levado ao Paraíso (“seio de Abraão”) – v. 22;

3)    O salvo é levado ao Paraíso, como o ex-ladrão da cruz: “hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.42,43); “O espírito e a alma, que deixaram o corpo, são ‘depositados’ no lugar que lhes foi preparado, para aguardarem a ressurreição;”

31.

4)    É Jesus quem recebe o espírito dos justos, após a morte, como se lê no caso de Estêvão (At 7.59);

5)    Os justos estão vivos, e mantêm sua identidade pessoal, sua personalidade, e consciência. Moisés, tendo sido sepultado por Deus, aparece, falando com Jesus, no monte da transfiguração (Mt 17.3), ao lado de Elias, que foi arrebatado; note-se que são os mesmos nomes: Moisés e Elias. “Deus não é

Deus dos mortos, mas dos vivos” (Lc 16.22); ver 1 Ts 5.10; Rm 8.10; Ap 6.9,10.

6)    O justo, após a morte, é consolado (v. 25 b): “e, agora, este é consolado”;

7)    Os mortos salvos estão “em Cristo” (1 Ts 4.16); “no Senhor” (Ap 14.13);

8)    Os justos que morrem são bem-aventurados (Ap 14.13 a );

9)    Os justos descansam de “seus trabalhos” (Ap 14.13);

10) As “suas obras” os seguem (Ap 14.13);

11) Para o salvo, a morte é um ganho; Paulo tinha o “desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fp 1.21,23 – grifo acrescido); 


 Idéias errôneas acerca do estado intermediário.

  

Acerca do lugar dos ímpios, após a morte, diz Horton: “No Antigo Testamento, o lugar da vida após a morte para os ímpios é, na grande maioria das vezes, chamado Sheol

(geralmente traduzido por “inferno” ou “sepultura”) [8].

 

 Nem sempre Sheol  é a sepultura... quanto a Bíblia fala de sepultura, de uma maneira inconfundível, como quando os israelitas perguntaram a Moisés: ‘Não havia sepulcros no Egito, para nos tirares de lá, para que morramos neste deserto?’ (Ex 14.11). Há ocasiões em que a palavra Sheol refere-se a sepultura (Sl 6.5; 115.17,18; Is 38.17-19.

 

 No Novo Testamento Sheol é traduzido por Hades. Normalmente, o hades é visto como um lugar destinado aos ímpios ; Deus livra o justo do Sheol , ou da sepultura (Sl 49.15); o Sheol  (inferno) é lugar de punição para os ímpios (cf. Sl 9.17).

 O Sheol tem sido interpretado como um lugar, dividido em dois compartimentos: um para os ímpios, e outro, para os salvos. Mas, segundo Horton, isso se deve, “possivelmente, à influência de idéias gregas e também porque Jacó, de luto, falou em descer ao Sheol ao encontro de José, mais tarde, os judeus, considerando Jacó e José justos, raciocinaram que tanto os justos quanto os ímpios iam para o Sheol. Assim, concluíram que deveria haver um lugar especial no Sheol  para o justo” [9]. Segundo Horton, “Na verdade, não há nenhuma passagem no Antigo Testamento que torne claramente indispensável dividir o Sheol em dois compartimentos – um para punição e outro para bênçãos” [10]

 

 Com relação aos termos “Sheol” e “Hades”, Berkhof diz que “de maneira nenhuma é fácil interpretar estes termos, e, ao sugerir uma interpretação, não queremos dar a impressão de estamos falando com absoluta segurança”. Para esse autor, os termos não são sempre empregados no mesmo sentido, ou traduzidos pela mesma palavra, “seja mundo inferior, estado dos mortos, sepultura ou inferno” ... “Com toda probabilidade, esta descrição local se baseia numa generalização da idéia do sepulcro, ao qual o homem desce, quando entra no estado de morte” [11]. Dentro dessa concepção, de que “sheol” ou “hades” representam esse “estado de morte”, tanto salvos como ímpios estão num desses

“lugares”.

 

 René Pache entende, no entanto, que o ensino sobre o lugar dos mortos (“le séjour dês morts”), dividido em duas partes, conforme criam os judeus, tem razão de ser. Baseiase em Lucas 16, no texto que se refere a Lázaro e ao rico, procurando demonstrar que ambos estavam no lugar dos mortos. Lázaro, no “Seio de Abraão”, que corresponde ao Paraíso, que é lugar de espera, antes da primeira ressurreição, dos justos, e o rico, no Hades, que é lugar intermediário de espera pelo julgamento final. Diz esse autor francês, que “está claro que o estado atual dos mortos, crentes e ímpios, é provisório. Uns, desde o presente, estão em repouso e felicidade, diante de Deus, esperando a ressurreição e o reino na eternidade. Outros, os ímpios, estão na prisão preventiva, esperando o julgamento final e o inferno definitivo” 36.

 

              Pearlman compartilha da idéia de um lugar dos mortos, dividido em duas partes.


Com base no AT, ele diz que “Séol era habitado tanto pelos justos (Jó 14.13; Sl 88.3; Gn 37.34,35) como pelos ímpios (Pv 5.3-5; 7.27; Jó 24.19; Sl 31.17). Do caso do Rico e

Lázaro concluímos que havia duas seções no Seól – um lugar de sofrimento para os

 

ímpios (Lc 16.23,24) e outro lugar para os justos, um lugar de descanso e conforto (Lc 16.25).  Entretanto, os santos do Velho Testamento não estavam sem esperança.  O Santo de Deus, o Messias, desceria ao Séol; o povo de Deus seria redimido do Séol (Sl 16.10; 49.15). Essa profecia cumpriu-se, quando Cristo, após Sua morte, desceu ao mundo inferior dos espíritos finados (Mt 12.40; Lc 23.42,43), e libertou do Séol os santos do Velho Testamento, levando-os consigo para o Paraíso celestial (Ef 4.8-10). Essa passagem parece indicar que houve uma mudança nesse mundo dos espíritos, e que o lugar ocupado pelos justos que aguardam a ressurreição foi trasladado para as regiões celestiais (Ef 4.8; 2 co 12.2). Desde então, os espíritos dos justos sobem para o céu e os espíritos dos ímpios descem para a condenação (Ap 20.13,14) [12]. Essa é visão mais aceita no meio evangélico em geral. Há quem não a aceite, como Horton, e outros.

 

 Compartilhamos da interpretação de Pearlman e de René Pache, de que existe o lugar dos mortos, com duas seções, ou divisões. Na verdade, talvez não seja apropriado falar-se de lugar físico, mas de estado, ou situação dos mortos. Nesse “lugar”, ou nessa situação, há dois “compartimentos” diferentes. Um, chamado Paraíso, que está nas regiões celestiais, “para cima” (Pv 15.24 a ), que serve de “lugar de espera” para os justos, que aguardam a primeira ressureição, quando irão ao encontro de Cristo, para viverem eternamente com Ele. E, outro, chamado Hades, “para baixo” (Pv 15.24b), que serve de “lugar de espera” para os ímpios, que aguardam a “segunda ressurreição”, quando irão para o juízo do trono branco, o juízo final, para receberem o castigo por suas obras, e serem lançados definitivamente no inferno (cf. Sl 9.17). Note-se que o Rico o rico, no Hades, “ergueu os olhos”, e viu lázaro ao longe (em cima), no “Seio de Abraão” (Paraíso). 

 

 Segundo o Pr. Elienai Cabral [13], antes do Calvário, “o Sheol-Hades dividia-se em três partes distintas... A primeira parte é o lugar dos justos, chamada ‘Paraíso’, ‘Seio de Abraão’, ‘lugar de consolo’ (Lc 16.22,25; 23,43). A segunda é a parte dos ímpios, denominada ‘lugar de tormento’ (Lc 16.23). A terceira fica entre a dos justos e a dos ímpios, e é identificada como ‘lugar de trevas’, ‘lugar de prisões eternas’, ‘abismo’ (Lc 16.26; 2 Pe 2.4; Jd v. 6). Nessa terceira parte foi aprisionada uma classe de anjos caídos, a qual não sai do abismo, senão quando Deus permitir nos dias da Grande Tribulação (Ap

9.1-12). Não há qualquer contato com esses espíritos caídos; habitantes do poço do Abismo”. 

 

 Para esse autor, depois do Calvário, “Houve uma mudança dentro do mundo das almas e espíritos dos mortos... Quando Cristo enfrentou a morte e a sepultura, e as venceu, efetuou uma mudança radical no Sheol-Hades (Ef 4.9,10; Ap 1.17,18). A parte do ‘Paraíso’ foi trasladada para o terceiro céu, na presença de Deus (2 Co 12.2,4), separando-se completamente das ‘partes inferiores’, onde continuam os ímpios mortos. Somente os justos gozam dessa mudança em esperança pelo dia final, quando esse estado temporário se acabará, e viverão para sempre com o Senhor num corpo espiritual ressurreto” [14].

 

             Devemos ter em mente que, mesmo sem entender toda a realidade do mundo

espiritual, pois agora só conhecemos “em parte” (1 Co 13.9), o mais importante é estar em comunhão com Cristo, para, seja pela morte, seja pelo arrebatamento, possamos estar com Ele na eternidade.

 

A Igreja Católica prega que há o Purgatório, lugar em que os fiéis, mesmo que não vivam em corrupção, têm que passar por lá, para purgar os pecados chamados “veniais”. Diz Strong: “Segundo a doutrina da Igreja Católica Romana, ‘todos que morrem em paz com a igreja, mas não são perfeitos, passam pelo purgatório’. Aqui, eles fazem a satisfação pelos pecados cometidos após o batismo através do sofrimento por um tempo maior ou menor segundo o grau de sua culpa” [15]Mas a Bíblia não autoriza essa doutrina em qualquer de seus livros. Essa idéia foi aceita por volta do Século XII, e posta em prática após o Concílio de Trento, no século XVI [16]. “Agostinho também introduziu a idéia de que a oração, as boas obras e o dizer a missa ajudariam os mortos a suportar os sofrimentos do purgatório. Gregório, o Grande, foi ainda mais longe, declarando que dizer a missa, como uma repetição do sacrifício de Cristo, liberta as almas do purgatório” [17]. Depois, houve a venda das indulgências, no século XI, em que se trocavam o perdão por dinheiro. Lutero combateu essa prática abominável, e foi excomungado. 

 

 Houve também a idéia católica de que haveria um lugar chamado “limbo”, para o qual iriam as crianças que não houvessem sido batizadas, e morreriam “pagãs”; esse ensino é rejeitado, hoje, pelo magistério católico.

 

 Os Adventistas do Sétimo Dia ensinam que as pessoas, após a morte física, passam a um estado, chamado “sono da alma”, na sepultura (hades); tomam ao pé da letra textos como o de Mt 9.24, e Jo 11.11, que dizem que Lázaro dormia, bem como a filha de Jairo; Paulo também usa essa figura para a morte (1 Co 15.6, 18, 20, 51; 1 Ts 4.13-15; 5.10); essa idéia pode ser refutada pela Bíblia, pois Abraão, Isaque e Jacó, que morreram, e foram sepultados, encontram-se plenamente vivos e conscientes, cf. Mt 22.32; o texto de Lucas 16 desmente tal crença, pois vê-se o rico plenamente consciente, pedindo ajuda ao Pai Abraão. Eles dizem que se trata apenas de uma parábola. Mas, na realidade, observa-se que o texto reflete um fato real, pois, nas parábolas, não se citam nomes dos protagonistas, como em Lc 16. O ex-ladrão da Cruz, ao crer em Cristo, ouve do Senhor a palavra de que “hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.42,43), e não de que estaria “dormindo”. No Eclesiastes, lemos que o corpo volta ao pó, e o espírito volta a Deus, que o deu (12.9). 

 

 No Eclesiastes, há expressões que os adventistas usam para reforçar o ensino sobre o “sono da alma”. “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco eles têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Até o seu amor, o seu ódio e a sua inveja já pereceram e já não têm parte alguma neste século, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol... Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma” (Ec 9.5,6,10). Essas passagens, ou esses termos, na verdade, referem-se à alienação total dos mortos em relação ao que se passa aqui na terra. Eles “não sabem mais coisa nenhuma” do que se passa aqui, “debaixo do sol”; a “sua memória ficou entregue ao esquecimento”, o amor, o ódio, inveja, etc., em relação ao que se passa na terra. Tais coisas lhes serão lembradas, no momento do juízo final, quanto aos ímpios, quando serão julgados pelas coisas que estão escritas “nos livros” das obras (cf. Ap 20.12,13). Por outro lado, vemos que, em Lc 16, o rico ímpio pede ao “Pai Abraão” que envie alguém para falar a seus parentes, para que não vão para o Hades. Ao que parece, o sofrimento dos ímpios, no Hades, inclui lembrança de seus entes queridos. Quanto aos justos, não há registro claro de consciência quanto ao estado de seus familiares, aqui, na terra. 

 

 

 O espiritismo ensina que, após a morte, ocorre a reencarnação. Os espíritas e os adeptos de diversas religiões orientais (Hinduísmo, Budismo, etc.) pregam que existem oito esferas, pelas quais os espíritos devem passar para se purificarem. Ensinam a reencarnação dos mortos recebem uma outra identidade, podendo reencarnarem como seres humanos, animais, plantas ou como um deus; acreditam que existe o “carma”, que se constitui no processo de purificação espiritual, através das diversas pretensas reencarnações;  “Na Índia, acredita-se que esse processo possa levar até seiscentas mil reencarnações” [18]. 

 

 A Bíblia condena essa crença herética. Disse Jesus: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24 – grifo nosso); nesse texto, os verbos estão no presente; Jesus não deu a mínima idéia de que alguém seria salvo após a morte, nem após milhares de pretensas reencarnações (ver 2 Co 6.2; Rm 8.1 e ref.).

 

 Ensinam, também, os espíritas, que os mortos comunicam-se com os vivos, através dos “médiuns”. Deus proíbe tal prática (Lv 19.31; 20.6, 7; Dt 18.9-12; Is 8.19-22). Na parábola do rico e de Lázaro, vemos que não é permitida a comunicação dos vivos com os mortos (Lc 16.27-30).


[1] Antônio GILBERTO. O calendário da profecia, p. 101-2.

[2] Ibid.,  p. 102.

[3] H. Orton WILEY & Paul T CULBERTSON. Introdução à Teologia cristã, p. 462-3.

[4] René PACHE. L´au-delà, p. 32.

[5] Ibid., p. 32.

[6] Pache RENÉ, l´au-delà, p. 32.

[7] Eurico BERGSTÉN. Teologia sistemática – doutrina das últimas coisas, p. 52.

[8] Horton, STANLEY M. Nosso destino., p. 42.

[9] Ibid.,  p. 46-7.

[10] Ibid., p. 47.

[11] Berkhof, LOUIS. Teologia Sistemática, p. 690-1. 36 Pache, RENÉ. L´au delà, p. 48-9.

[12] Myer PEARLMAN. Conhecendo as doutrinas da bíblia, p. 375-6.

[13] Elienai CABRAL. O estado intermediário dos mortos, p. 21.

[14] Elienai CABRAL. O estado intermediário dos mortos, p. 21.

[15] Augustus H. STRONG. Teologia sistemática, p. 797.

[16] Horton STANLEY M. Nosso destino.  p. 52.

[17] Ibid., p. 54.

[18] 43 Ibid., p. 57. 


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